segunda-feira, 6 de agosto de 2012

QUEM TEM MEDO DO TESTEMUNHO?



Não é demais, hoje, lançar esta pergunta. São muitos, certamente, que se sentirão tocados por ela.

Poderosa é a função do testemunho.

A história mostra que há certas épocas – como esta que o Brasil está vivendo agora – em que este poder pode se manifestar plenamente e ser exercido.

Nestes raros momentos históricos, o simples ato de dizer publicamente a verdade pode confrontar o mais tirânico dos poderes. Não se trata de uma verdade moral a ser ditada, mas de estabelecer a verdade de fatos históricos.

Mesmo silenciada durante décadas pelo terror de Estado, a verdade volta pela voz das testemunhas.

São elas que acionarão, na Comissão Nacional da Verdade, uma inédita potência política para o depoimento público.

Nunca é demais lembrar que, nestas específicas circunstâncias, é a simples palavra falada da testemunha que é prova suficiente e necessária para a produção de memória e verdade que a Comissão se propõe. Equivale à prova documental ou material exigida no processo penal.

O valor de prova do depoimento vivo pode até superar, pela riqueza das experiências relatadas, o valor reconstitutivo resultante da abertura dos arquivos da ditadura.
Propiciar a quebra do silenciamento promovida pelas testemunhas é tanto ou mais importante do que a quebra do sigilo promovida pelo desarquivamento de documentos nunca mostrados.

Sabemos que as forças clandestinas que antes forçavam o silenciamento se levantarão, agora, para desvirtuar a verdade e os fatos testemunhados, certamente incentivados pela tendenciosidade da grande mídia.

Podemos prever que o resultado do testemunho oferecido na Comissão, isto é, a responsabilização pública dos violadores, terá um insubstituível efeito de reparação simbólica, tanto dos afetados diretos quanto da memória social.  Sem a plena responsabilização, o dano permanece ativo e tende a se perpetuar.

Quem tem medo do testemunho?


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Eduardo Losicer, Equipe Clínico-Política 

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